quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Salve, Cecília!


Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo 
que está onde as outras coisas nunca estão, 
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: 
quero solidão. 

Meu caminho é sem marcos nem paisagens. 
E como o conheces? - me perguntarão. 
- Por não ter palavras, por não ter imagens. 
Nenhum inimigo e nenhum irmão. 

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada. 
Viajo sozinha com o meu coração. 
Não ando perdida, mas desencontrada. 
Levo o meu rumo na minha mão. 

A memória voou da minha fronte. 
Voou meu amor, minha imaginação... 
Talvez eu morra antes do horizonte. 
Memória, amor e o resto onde estarão? 

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. 
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! 
Estandarte triste de uma estranha guerra...) 
Quero solidão.

Cecília Meireles



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

...

Era um rosto que a escuridão poderia assassinar
num instante
 uma face fácil de ferir
com riso ou luz
"À noite pensamos de outra forma"
disse-me ela certa vez
recostando-se languidamente
E citaria Cocteau
"Sinto que há um anjo em mim" diria
"que constantemente escandalizo"
Então sorriria enigmática
acenderia o cigarro para mim
entre suspiros
e erguendo-se alongaria
sua delicada anatomia
deixando cair uma meia

Lawrence Ferlinghetti

domingo, 3 de novembro de 2013

Zaratustra, "por qué no te callas?"

     És escravo? Então não podes ser amigo
     És tirano? Então não podes ter amigos.
    Durante longo tempo se ocultavam na mulher um escravo e um tirano. Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o amor.
   No amor da mulher há injustiça e cegueira perante tudo quanto não ama. E mesmo o amor consciente da mulher oculta sempre, a par da luz, a surpresa, o raio e a noite.
     A mulher ainda não é capaz de amizade: as mulheres continuam a ser sempre gatas e pássaros.

Nietzsche